Fiz a Escolha Errada. E Agora? Como Fazer Boas Escolhas

Você queria muito alguma coisa e se esforçou para ter o que tanto desejava — ou alcançar seu objetivo — e finalmente conseguiu. Uma vez conquistado algo, é muito provável que no início tenha havido a empolgação, seu cérebro desprezou os pontos negativos e valorizou os positivos. Assim como possivelmente foi durante seu processo de escolha também! Contudo, os dias vão se passando e alguns pormenores vão minando seu raciocínio irrealisticamente otimista. Você luta para justificar ou negar essa realidade, mas pouco a pouco você cede e começa a notar que, naquela sua relação, a pessoa amada tem defeitos, não correspondendo à sua visão idealizada de casal quase perfeito. Igualmente, naquele seu emprego atual tem gente fofoqueira e que joga baixo do mesmo jeito que no anterior, o chefe é ainda mais exigente e desumano que o do antigo emprego. Assim sendo, quando muito, sobrou o salário um pouco melhor do que o antecedente, mas que não compensa essas decepções.

Optar por um emprego ou por uma relação com determinada pessoa são escolhas complexas, que envolvem riscos e consequências que podem interferir no rumo e na saúde de nossas vidas. Por outro lado, seja na escolha de um automóvel ou mesmo de uma roupa, é preciso cuidados para evitar ou reduzir arrependimentos consequentes dessas escolhas.

Agora, se você não tomou nenhuma medida preventiva, o que fazer quando o tiro saiu pela culatra? E agora?

Admita o erro, para si mesmo e para as pessoas. Tem medo de críticas? Como: “Ah, eu bem que te avisei.” “Para que foi mexer com isso?” “Bem feito.” Seus verdadeiros amigos — ou o seu amigo —, jamais o receberá dessa maneira aversiva. Chore, desabafe. Uma escolha errada implica em uma perda, perda que, por sua vez, implica em um luto. Passe por esse luto, mas sempre se concentrando em deixar essa etapa para trás e não a levar para muito adiante.

Por outro lado, pode ser que ainda dê tempo de voltar atrás. Se houver essa possibilidade, ainda assim é imprescindível assumir que se tratou de uma escolha errada permeada por sua má condução durante o processo de escolha.

É bom baixar a guarda e admitir que você preferia, lhe era mais saudável e viável como estava antes. Já, se não houver volta, a atitude mais sensata é fazer todo esse procedimento descrito nas linhas anteriores, mas consciente de que resta apenas focar em uma saída, que, na maioria das vezes, se dá em longo prazo. Em suma, é necessário rever atitudes, tomar novas e esperar. Se após tudo isso não houver saída, não há o que se fazer a não ser se adaptar à nova realidade.

Escolha errada ou sua visão errada sobre a escolha?

É difícil acertar em todas as nossas escolhas, mas se você tem muito mais errado do que acertado é necessário examinar algumas coisas.

Nossas escolhas podem dar errado por diversos aspectos. Alguns deles são: por impulsividade, alta sensibilidade ou perfeccionismo. Leia mais sobre o perfeccionismo em: https://www.cogniativo.com.br/2021/01/as-dimensoes-do-perfeccionismo.html

Será que esses fatores não estão afetando sua maneira de ver e lidar com suas escolhas? Mais do que isso, será que não há uma visão que sofre interferência de uma depressão ou ansiedade? Ambas nos levam a crer que nada vale a pena ou que não daremos conta de lidar com esses vieses, pois há um futuro nada amigável pela frente, algo do qual não se pode saber o que irá acontecer e que perante o qual nos julgamos incapazes de enfrentar o que vem pela frente. Dessa forma, não é a situação em si que está desfavorável, porém a maneira como a vemos. É hora de mudar não de relação, emprego ou automóvel, mas sim sua maneira de pensar sobre essas coisas.

Impulsividade

Não estando relacionada a “doenças”, como ansiedade, esquizofrenia ou TDAH, a impulsividade diz respeito meramente à falta de autocontrole. Leia mais sobre autocontrole: https://www.cogniativo.com.br/2021/01/autocontrole-e-saude-mental.html

Embora eu saiba que dada atitude minha trará prejuízos, talvez muitas vezes já tenha trazido, eu me julgo merecedor daquilo e a ponho em prática, opto por algo sem muita reflexão ou empenho em me autocontrolar. Se na sua infância você fazia birra e conseguia aquilo que queria, ou seja, era gratificado imediatamente à manifestação ou protesto pelo seu objeto de desejo, provavelmente tem dificuldades de retardar esse impulso à gratificação na fase adulta. A impulsividade está mais ligada ao nosso sistema de recompensa, ao vício, ou seja, ao prazer e, sobretudo, falta de autoconhecimento.

Alta sensibilidade

Quando, desde a infância, não sou exposto a críticas, a opiniões dos meus pais ou de outras pessoas, quando esses pais me protegem demasiadamente dessa exposição, a tendência é que eu me torne um adulto hipersensível a críticas. E para evitá-las, concluo que devo concordar com tudo e com todos, termino por tomar decisões que vão contra minha vontade. É o famoso não saber dizer não. Aí, o resultado já sabemos.

Perfeccionismo

Pensar em todos os detalhes e procurar fugir de quaisquer equívocos numa determinada decisão que envolva um novo emprego ou mesmo um novo projeto no emprego atual, pode ser uma fria. Por exemplo, você tem uma palestra para fazer e a todo custo quer que ela seja a palestra. Além de retardar a entrega daquilo que executamos, essa mania de perfeição pode nos levar a tomar uma decisão fundamentada no cansaço, e uma vez próximo de se encerrar o prazo, mal temos tempo de realmente escolher. Sem contar que podemos após a decisão e já em um novo lugar ou posição, cobrar demais das pessoas à nossa volta. O perfeccionismo pode nos fazer exigir do outro o mesmo afinco, esmero e dedicação nosso, o que termina por afastar as pessoas. Portanto, querer perfeição seja numa relação ou num emprego não garante boas escolhas. Aliás, perfeccionismo não traz garantia de que sequer conseguirei fazer a escolha mais acertada da melhor roupa. Isso quando ele nos permite escolher, já que, muitas vezes, não saímos do lugar.

A culpa é do seu cérebro?

Quando optamos por comer aquela pizza e sentimos aquela sensação agradável, de prazer, é porque foi liberado em nosso cérebro um neurotransmissor denominado dopamina. De modo que a dopamina tem relação com nosso processo cognitivo e interfere em nossa vontade de se mover em direção a algo, ao ser liberada em nosso cérebro, em nosso sistema de recompensa, sentimos esse prazer. Dessa maneira, somos levados a cada vez mais procurar coisas que nos deem prazer, não importando o quanto teremos de “pagar” por esse prazer posteriormente. No caso da pizza, pagamos por danos à nossa saúde.

Agora, com treino, podemos conciliar necessidade de manter a saúde e o desejo e direito de comer aquela pizza. Posso comer pizza no sábado, se durante toda a semana me alimentei de forma regrada, saudável, fui à academia no mínimo três vezes. Desse modo, você indica para seu cérebro que para ter o prazer da pizza, antes é preciso esperar essa gratificação cumprindo algumas condicionalidades. Não é fácil, mas é possível, apesar de estarmos subordinados à necessária dopamina. Apenas para se ter uma ideia melhor da sua importância, se falta dopamina, podemos entrar em depressão; se ela é demais, pode contribuir no desenvolvimento de uma esquizofrenia.

Você está no seu modo criança

De maneira resumida, quanto mais madura uma pessoa for, mais tendemos a tomar boas decisões. Quanto mais estivermos operando em nosso modo criança, julgando não sermos capazes de tomar as rédeas de nossa vida, não aceitando que obstáculos, frustrações e decepções fazem parte da vida, mais vulneráveis a más escolhas estamos submetidos. Agindo assim, estamos fadados a tomá-las e culpar o outro, a não nos responsabilizarmos por esses erros, e assim vamos fazendo tudo sem a devida reflexão e planejamento. Nunca lançaremos mão de um plano B, imprescindível para evitar maiores prejuízos de uma primeira escolha errada.

Quando as coisas estiveram bem realmente em sua vida e o que faria sua vida ser realmente boa?

Perguntas básicas essas. E se a resposta for que nunca estiveram boas e você não visualiza nenhuma possibilidade de que venha a ser boa, o problema pode estar em grande parte em você, pois sejam quais forem suas escolhas, elas sempre estarão atreladas à sua visão distorcida sobre você mesmo, o mundo e o futuro. O que nos leva a crer que não se trata, mais uma vez, da sua escolha feita em si, mas de como você a percebe.

Aprendendo com essa má experiência

O que deve ser feito e evitado na próxima escolha tem que ser levado em consideração. Parece óbvio, mas, muitas vezes, apesar das consequências indesejadas da escolha anterior, sequer admitimos nossos erros. E, apesar de se tratar de uma nova escolha, se agirmos da mesma forma, fatalmente teremos os mesmos resultados.

Como evitar a escolha errada?

Perguntar a alguém semelhante como é estar naquele emprego e empresa, ajuda. Mas lembre-se que tem que ser alguém de personalidade parecida com a sua. De pouco adianta perguntar a um extrovertido como é trabalhar no setor de marketing, sendo você um extrovertido inveterado. A pessoa provavelmente vai lhe dizer que é o emprego que qualquer um quer ter, que se trata do emprego dos sonhos. Mas você já imaginou na enrascada que pode entrar se não se imaginar sendo exposto e bombardeado por gente e informação o tempo todo? Logo você, o introvertido que almeja na maioria das vezes silêncio e solitude? E aqui nem vou entrar no mérito da timidez ou fobia social.

E, se possível, pergunte a mais pessoas que trabalham na sua pretendida empresa, sobre como é atuar naquele emprego.

No caso de relacionamentos afetivos, perguntar-se sobre o motivo de querer estar com essa pessoa pode auxiliar na sua tomada de decisão. Se a resposta for simplesmente para evitar estar sozinho ou porque outras pessoas não estão sozinhas e você merece também não estar, cuidado. Procure saber como foram as relações anteriores dela. Sim, investigue. Antes ter essas informações do que as descobrir por si mesmo, e essas informações se tornarem atitudes nada boas por parte de seu par romântico.

Muitas vezes, para garantir que não seremos rejeitados, escondemos ou tentamos esconder nossos defeitos no início de nossas relações, mas o nosso passado é fato. Agora se você ainda assim preferiu ir adiante, é bom revisitar sua autoestima e objetivos reais com essa relação. Cautela também se o seu parceiro lembrar algum dos seu pais e devido a esse aspecto você se basear sua escolha por essa pessoa.

Enfim, não relute em se tornar hábil em dizer não, saber o momento mais propicio para o sim, examine, reflita, pergunte, investigue sobre a opção profissional, a escolha daquela pessoa, a opção por aquele produto que quer adquirir. Saiba que a palavra do outro tem um poder muito grande sobre sua decisão, por isso não fique preso a uma opinião apenas. E no mais, procure ajuda de um profissional, pois esse texto de forma alguma o substitui.

Referências

LUISA, Ingrid. Você só toma decisões ruins? A ciência explica o porquê. Revista Superinteressante. Disponível em: https://super.abril.com.br/comportamento/voce-so-toma-decisoes-ruins-a-ciencia-explica-o-porque/ acesso em 21 nov 2021.

Imagem disponível em: https://arquitetandoestilos.com/a-vida-e-feita-de-escolhas/ acesso em 21 nov 2021

 

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