Autocontrole e Saúde Mental
O autocontrole é fundamental para uma boa saúde mental. Ele diz respeito à capacidade de regular e impedir que os desejos emoções e sentimentos governem o comportamento. Para alcançá-lo ou prolongá-lo o máximo possível, entre outras coisas, devemos substituir o calor das emoções pela frieza das emoções. Ou seja, implementar o planejamento consciente e a gratificação adiada. Por exemplo, na reeducação alimentar é imprescindível dizer, ano momento presente, não para as comidas prazerosas, a fim de ter um corpo saudável no futuro.
Tarefa
não muito fácil, é verdade, uma vez que o autocontrole é limitado, escasso. Podemos
o comparar com o tanque de gasolina do carro, que quanto mais uso, menos
combustível tenho. Em suma, de manhã temos mais autocontrole do que à tarde.
Alguns cientistas acreditam que na verdade se trate de uma mudança em vários de
nossos processos internos. Tanto em processos afetivos quanto cognitivos. Essas
mudanças geram a sensação de esgotamento do autocontrole, mas a causa dessa
sensação não é a perda de autocontrole de fato, sim essas mudanças
complexas dentro de nós.
Portanto,
se à tarde temos a sensação de que nosso autocontrole está esgotado, podemos
ficar à mercê da vontade de comer doce ou besteira. Você deve estar se
perguntando qual a causa dessa sensação de perda de autocontrole, dessas
mudanças internas. Uma resposta é que o uso do seu autocontrole mudou você afetivamente.
Houve mudanças em suas emoções e sentimentos. A sua motivação está baixa, você
está desanimado, sua disposição está prejudicada, e você se encontra mais
sensível, mais reativo. Enfim, se sente esgotado.
Mas,
conforme citado antes, há mudanças cognitivas também. Sua atenção em vez de
focar em disciplina, metas, se volta para as coisas negativas, como o cansaço. Consequentemente,
há a busca por recompensa, conforto e indulgência, além de prazer e gratificação
imediata. Você diz: “Eu mereço um doce!” Então a memória começa a buscar coisas
gostosas que você comeu.
Desse
modo, se percebe que seu cérebro está mudado nessa fase. Apenas mudado, é bom
ressaltar. Tanto a perspectiva do tanque de combustível quanto a de mudança são
aceitas, não dá para falar qual está mais correta.
Por
outro lado, há meios de se intervir nessas perspectivas, visto que, em vez de
focar no doce, algumas pessoas conseguem mudar o foco. Conseguem, apesar de se
sentirem cansadas, não focarem no cansaço. Lembram-se de coisas que favorecem
seu foco nas suas metas, em vez de lembranças que focam na pizza maravilhosa ou
em algo que deu errado.
Quando
se está com fome, tendemos a não ter autocontrole. Assim sendo, trabalhar ou
estudar com fome é uma má ideia.
A
despeito disso, todo traço de personalidade é vulnerável à perda de
autocontrole, mas alguns tendem a perdê-lo mais facilmente, por exemplo, as
pessoas mais despreocupadas. Já a pessoa muito conscienciosa tem dificuldade de
dizer não para a própria disciplina para a própria diligência, tem dificuldade
em parar de trabalhar. O neuroticista, por sua vez, deixa algo ruim tomar conta
de sua vida. Como se nota, todo excesso atrapalha.
Por
que perdemos o autocontrole
Devido
ao cansaço. Uma noite mal dormida afeta muito o autocontrole. E se levando em
consideração o cansaço, quinta ou sexta à tarde é uma péssima ocasião para se
reunir com os colaboradores no trabalho, conversar, seja com a esposa, sobre
uma decisão delicada. Nesse confronto cansaço x autocontrole, o cansaço sempre
ganha. Mas há outros fatores, como a má nutrição. Portanto, se deve comer bem, não comer
qualquer coisa e terminar por se nutrir mal.
Em
meio a isso tudo, fica evidente, por exemplo, que se você não tem tempo para
estudar e quer focar nos estudos, aproveitando seu horário de almoço, ler
enquanto almoça é melhor do que antes ou depois de almoçar. Outro ponto é o
erro de fazer compras com fome. A fome libera um hormônio chamado grelina, que
nos deixa impulsivo para comprar de tudo.
Outros
fatores que afetam o autocontrole
Aflições
emocionais
Ansiedade,
depressão e tristeza atrapalham o autocontrole.
São elas que levam você a dizer: “Eu sou um fracasso mesmo, vou beber e
comer o que quero, não vale a pena seguir com esse autocontrole”. Algo que pode
ajudar a melhorar isso é a prática da meditação, tal como a atividade física. Porém
coisas mais simples surtem efeito semelhante, é o caso do contato social,
brincar com um animal de estimação, com os filhos ou abraçar alguém importante.
Um adendo, atente-se para o açúcar, pois na hora em que o ingerimos, temos uma melhora
no humor, mas uma piora posterior.
Falta
de familiaridade
Um novo
cargo esgota mais cedo seu autocontrole, começar algo novo, de um modo geral,
nos esgota mais rapidamente. Por isso mesmo respeitar seus limites é muito
importante.
Focar
no problema
A
maneira de encará-lo influencia em nosso autocontrole. Tudo tem um lado ruim,
tudo! Até ganhar na loteria. Seria bom focar no positivo até mesmo numa reunião
chata do emprego. Se não há como evitar, então qual a utilidade de reclamar, focar
que aquilo será cansativo? Trata-se de uma profecia autorrealizável, pois você
de fato se cansará mais facilmente e rápido se pensar assim, é a fadiga
ilusória.
Para melhor
exemplificar, peguemos o efeito placebo, no qual só de acreditar, sem saber que
se trata de uma pílula de farinha, que um remédio vai melhorar a dor de cabeça,
há 40% de chance que ela melhore só por acreditar nisso. Ao contrário, há o efeito
nocebo, no qual se você acreditar que haverá um efeito colateral, são grandes
as chances de que você o tenha mesmo.
Sentir-se
controlado
Em vez
de focar na inevitabilidade, no problema, foque em algo de bom, ainda que se
trate daquela reunião chata. Agora, cabe ressaltar que quando os membros de uma
equipe de trabalho veem que fazem parte da decisão, sentem-se melhor. Isso
porque quando você se sente protagonista, sente que aquilo não está sendo
enfiado goela abaixo, que você não quer fazer aquilo, mas tem que fazer, pois
sua contribuição é levada em conta, seu autocontrole aumenta.
Dissonância
cognitiva
Quando
fazemos algo que contraria nossas crenças, nossos valores, nossas ideias, nossas
emoções e nossos afetos, ou seja, contraria quem nós somos, nosso autocontrole
é destruído. Não conseguimos terminar algo começado ou mesmo começar algo novo.
Por isso é importante a ideia de propósito, de alinhar aquilo que nós fazemos
àquilo que nós somos, àquilo que nós sentimos, que nós pensamos, àquilo que
desejamos para nós e para o mundo. Pergunte-se por que e para que fazer algo. Como
"diria" Nietzsche, aquele que tem um porquê para viver, pode suportar
quase qualquer como.
Frequência
cardíaca
Quando
os batimentos cardíacos oscilam muito, temos menos autocontrole. Nesse ponto, dormir
e se exercitar também ajudam.
Flutuações
hormonais
A TPM nas mulheres traz prejuízos no
autocontrole.
E uma curiosidade,
homens têm prejuízos cognitivos, uma piora da capacidade de raciocínio, quando
perto de mulheres atraentes. Em todo caso, alimentar-se bem, dormir e se
exercitar, mais uma vez ajuda.
Idade
Quanto
mais maduro, mais autocontrole. Um detalhe: ajustar a maneira de lidar com os
mais jovens é importante, porém isso não significa ter que aceitar suas
atitudes impulsivas, as quais não aprovemos.
De forma
resumida, o autocontrole promove uma barreira contra maus pensamentos e maus sentimentos
e, claro, más decisões, que podem acarretar sofrimento e prejuízo em todas as
áreas de nossa vida.
Nota: as exposições nesse
texto têm caráter meramente informativo. Para efetuar mudanças concretas,
duradouras e até permanentes é imprescindível o auxílio de um profissional
habilitado.
Fonte: CALABREZ, Pedro. Projeto
Autoconhecimento e Transformação. Neurovoxacademy, 2021.
Imagem: https://www.institutoconectomus.com.br/neurociencia-autocontrole-e-realizacao/
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