Por que Você Desiste de Tentar Mudar?
Você fala ou faz algo e em seguida se arrepende. Ou se esforça para falar alguma coisa ou para fazer algo, porém não consegue. E isso se repete muito. Às vezes você consegue até começar a agir como gostaria, mas não demora a voltar a ter os mesmos comportamentos de antes. Você queria muito mudar, porém desiste. Por quê?
Um dos motivos é que,
contra sua vontade consciente, seus esquemas estão inconscientemente ativados
nessas situações. Isso quer dizer, de maneira simples e resumida, que apesar de
você querer pensar, sentir e agir diferente, não consegue, pois seu pensamento
sofre interferência de suas crenças mais profundas, crenças que formam um
esquema.
Young fala que “um esquema
é uma representação abstrata das características distintivas de um evento, uma
espécie de esboço de seus elementos de maior destaque”.
Dentre esses
esquemas temos quatro que mais causam sofrimento em uma pessoa, são os de abandono/instabilidade,
desconfiança/abuso, privação emocional e defectividade/vergonha. Fatalmente
foram pessoas que na infância sofreram abuso, foram negligenciadas ou
rejeitadas. E agora, na vida adulta, esses esquemas voltam a perturbá-las, de
maneira inconsciente, ao passarem por situações semelhantes àquelas vivenciadas
na infância. E em sua maioria vivências que foram traumáticas.
Por exemplo, uma
mulher que repete relações onde o companheiro grita, fala palavrão, está sempre
a menosprezando, na verdade se sente confortável, apesar de todo sofrimento
causado pelo comportamento do parceiro. Ela só conhece aquele tratamento,
talvez oferecido pelo pai rude, ríspido e abusivo. Aquilo lhe soa familiar,
traz certo conforto, até mesmo segurança.
Ao ativar seu
esquema, a pessoa sente uma emoção intensa e que é negativa. Tal emoção pode ir
da aflição à raiva. Porém, é bom que você saiba que nem todos os esquemas são
motivados por abusos ou negligencia de quando se era criança.
Para se ter uma
ideia melhor, qualquer um de nós pode desenvolver um esquema de
dependência/incompetência e não ter passado por um evento traumático na
infância. Pelo contrário, pode ter sido superprotegido, ou até mesmo mimado.
Agora, mesmo que não tenham como causa algum trauma, todo esquema é destrutivo.
Em grande parte, os esquemas são formados a partir de situações danosas na
infância que com frequência se repetiram. De acordo com Young, ‘os esquemas
desadaptativos remotos lutam para sobreviver”.
Conforme escrevi nas
linhas anteriores, tal dinâmica do esquema vem de forma automática por causa de
“nossa necessidade de coerência”. Ou seja, o esquema é o que você conhece.
Assim, só se pode usar, ensinar algo, repassar algo que se sabe, que se aprendeu.
Apesar de causar sofrimento, esse esquema nos torna, momentaneamente, menos inseguros,
podendo ser percebido como aconchegante, pois nutre aspectos da família. Terminamos por nos sentirmos bem.
Contudo, os esquemas dizem respeito àquilo que leva alguém a reproduzir, automaticamente,
na fase adulta, experiências idênticas as da infância e que foram causadoras de
muitos danos para essa pessoa.
O nível de gravidade
e capacidade de nos invadir se diferem nos esquemas. Tão maior a gravidade do
esquema, mais situações vão o ativar. Alguém com um esquema de defectividade/vergonha
grave pode sentir intenso desconforto no trabalho, na faculdade e em situações sociais e
usar mecanismos como o de fugir ou deixar de ir a esses lugares.
Para ilustrar, se
você passou por frequentes críticas intensas com seus pais ou cuidadores, ainda
em pouca idade, é muito provável que esse esquema será quase sempre ativado quando
você posteriormente se deparar com outras pessoas. E aí talvez comece alguns outros problemas,
como a regra de que se eu for perfeito ou agradar vou evitar essas críticas.
Uma maneira de
evitar a construção de esquemas na fase infantil ou os manejar já em idade
adulta é fornecer suporte para satisfazer nossas cinco necessidades
emocionais fundamentais.
1. Vínculos seguros
com outros indivíduos (inclui segurança, estabilidade, cuidado e aceitação).
2. Autonomia,
competência e sentido de identidade.
3. Liberdade de
expressão, necessidades e emoções válidas.
4. Espontaneidade e
lazer.
5. Limites realistas
e autocontrole
Young, Jeffrey E., Klosko, Janet S., Weishaar Marjorie E. Terapia do Esquema: Guia de Técnicas Cognitivo-Comportamentais Inovadoras. São Paulo. ed. Artmed, 2009.
Imagem: My Life. Disponível em: https://mylifepsicologia.com/mudar-de-vida/ acesso em 16 ago. 2022
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