Não Faça Terapia

 

A terapia vai te colocar em furadas com essa história de autoconhecimento, autoestima e não sei o que lá mais de bem-estar psicológico. Você pode descobrir que é mesmo um idiota inveterado ou que ainda precisa que sua mulher o trate como sua mãe o tratava porque você ainda acredita que é o “menino lindo da mamãe!” (ou feio, né? Mas se até hoje não elaborou seus defeitos é porque não amadureceu) ou a melhor filha do mundo para a mamãe, porém não sabe a razão pela qual é a melhor, quais méritos. Você não precisa esperar e ir à terapia para isso. Ninguém é o que papai e mamãe diz, você é o que as pessoas têm de você, não o que pensam. E outra coisa, mexer nas feridas dói mais ainda, é melhor comer algo doce e gorduroso e rolar a tela do celular até o braço adormecer. Além de que, tem o deslocamento até o consultório e aquela hora inteira que pode ser bem chata, dependendo da abordagem e personalidade do psicólogo. Há aqueles com cara de sério para dar um ar de sabe-tudo com pós-doutorado, o que não adianta nada, pois ele deverá saber mais do paciente do que de psicologia, e assim o paciente vai embora antes da quarta sessão, o que significa não ter sabido nada dele. Há aqueles mais despojados com o objetivo de fazer os pacientes gostarem deles, mesmo que a sessão seja uma grande m#rda, e o próprio psicólogo acha que arrebenta em cada atendimento, portanto não faz questão de dar conta dos seus próprios traumas e carências porque agora é (o) psicólogo.

Por isso não faça terapia. Continue levando sua vida feliz, e feliz mesmo por ignorar coisas como a morte, a finitude dessa vida tão bela, frágil e, às vezes, injusta, a possibilidade de adoecer, sofrer acidentes, perder pessoas queridas, guerras destruir nações e políticos loucos ou corruptos. Continue levando sua vida medíocre, crendo que ela é assim mesmo, integralmente entediante por culpa dos outros, ou siga com sua vida de glamour baseada em esconder carências e traumas. Espere que “do nada” virem Pânico e Burnout, uma vez que ir à terapia pode revisitar esses traumas e carências e antecipar esses incômodos. E a última coisa que você quer é incômodo, não é mesmo? Se algo incomodar, coma mais alguma coisa num impulso. Mas há aqueles incômodos que não te incomodam. Aqueles incômodos com os quais já se acostumou tanto, que você acha ser incapaz de viver sem eles. Não faça terapia, mas se esses motivos foram poucos para não te convencer, tenho outros tantos.

Esse texto é uma sátira, nada mais.

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