Amar Sem Amor É Possível?


A desilusão amorosa pode nos fazer criar barreiras contra o amor. Pode nos levar a prometer nunca mais se abrir para ele. Mas, de antemão, esclareço que, em vez disso, seria melhor nos atermos ao que provocou o fim da relação pelo outro ou a não correspondência pelo outro. O que você poderia mudar em se tratando de atitudes numa relação ou, antes de tudo, ao escolher o próximo parceiro? O que houve no relacionamento anterior (ou anteriores)? Foi apenas por medo de ficar só? Você julgava que o outro era tudo para você? Você o idealizou tanto que não percebeu seus defeitos? E, óbvio, como está o seu amor por você mesmo?

Você pode até dizer que vai se relacionar com alguém pelo qual não sinta amor, que assim não sofrerá com o fim desse relacionamento ou com sua mera não correspondência. O problema é que, nesse caso, a sensação de vazio e decepção consigo mesmo podem ser maiores que a dor de um término, pois, elas fatalmente serão mais duradouras, certamente cotidianas pelo tempo que perdurar seu não amor. Sem contar que não haverá admiração, aquele desejo pelo outro, e o outro, ao perceber que não há aquele brilho nos seus olhos, pode desistir de seguir adiante, ainda que não se encoraje de terminar tudo.

Não, não falo que deva haver paixão permanente, paixão é o vapor do amor, que logo é levado pela mais mansa e inesperada brisa. Falo que amar com amor requer correr riscos (como tudo na vida), maturidade e boa autoestima para fazer doações e adoções sem exageros, até onde nosso limite e o limite do outro permitir. E se ainda assim acabar? Você terá amado, simplesmente isso. Evitar amar para não sofrer é sofrer antecipadamente por se privar de uma das melhores coisas da vida. 

Agora, de fato, você pode amar sem necessariamente namorar ou casar ou mesmo morar junto. Não diria que apenas pode, mas deve, se esse é seu desejo. Por outro lado, se você diz: “Ah, daqui por diante vou amar apenas o meu trabalho”. Ou: “Vou amar integralmente o meu filho”. Ou ainda: “Vou amar estritamente o meu hobby!” Tudo bem, não há nada de errado nisso também, porém, na minha humilde opinião e breve experiência profissional, saiba que é muito difícil que esse amor substitua o amor por aquele alguém.

Assim sendo, amar (se é que pode se dizer amar, no final das contas) sem amor pode até ser possível, pois, do contrário, mais rompimentos aconteceriam naquelas relações movidas unicamente por interesses financeiros ou nas quais há muito o casal apenas vive junto – embora constantemente postem que se amam. Não que não existam pessoas vivendo e com amor, apesar de décadas de união. Claro que há, e isso prova que é possível, havendo amor, superar os defeitos, as manias e encontrar meios de olhar para a pessoa como se a tivesse conhecido recentemente.

Mas nosso cérebro gosta de novidade e de economizar energia, o que vai opostamente ao investimento diário em escutar o outro, saber a hora certa de falar, de acolher, de ser acolhido, de ceder, de se impor, de brincar, isso mesmo, brincar, desgastando o menos possível a relação, fazendo com que ela envelheça sem ficar velha. E sim, repito, ao amar sem amor, é bem provável que você não sofra por uma desilusão amorosa temporária, mas sofra todos os dias em uma relação estéril, ainda que, absurdamente, apenas o outro lhe dê amor. Sofra por quê? Porque o amor é via de mão dupla, não tolera um “autoabuso”, um abuso nosso contra nós mesmos, que vem a ser amar sem amor.

Imagem: https://www.significados.com.br/amor/

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