Por que Ainda Acreditamos em Políticos?

 

Você já parou para pensar por que ainda acreditamos em políticos? Em como tendemos a acreditar mesmo nas ideias mais improváveis que eles divulgam? Se você já pensou é um bom sinal, pois até uma explicação para aquele que crê piamente em seu candidato sem questionar algo que se oponha a esse candidato pode causar atrito. Se ainda não pensou, saiba que você não está sozinho, uma vez que somos uma espécie que crê prontamente nas coisas. A questão é: acreditamos por quê?

Uma das explicações é o viés de confirmação. O viés de confirmação é uma disposição nossa para procurar e favorecer informações que vão ao encontro de nossos juízos previamente determinados, não levando em conta se aquelas informações são ou não corretas. Trata-se de um mecanismo inato que nos coloca em desvantagem com quem mente.  É como se nascêssemos habilitados para acreditar em mentiras. E, claro, para acreditar nas mentiras que todos contam, inclusive os candidatos.

 E em se tratando de política e de mentira, o senso comum e a ciência concluem que a classe política é a que mais bem mente. Obviamente nem todos são mentirosos, porém a psicologia social constata que um político mente mais em número, intensidade e eficácia. Eles nos convencem de forma mais fácil do que os atores, pois, como eleitores, queremos nos enganar, crer para dar sequência ao sonho de que agora, com nossos eleitos, a coisa toda mudará (SCHELP, 2018).

Mas se iludir não se restringe ao campo político, claro, ele se estende a outros contextos, como o televisivo. A grande diferença entre o entretenimento, como por exemplo uma novela ou o Big Brother e a política, é que esta nos promete uma mudança de vida e aquele, apenas uma ilusão momentânea e anestesiante. Por falar em Big Brother, segundo Kehl (2004), está equivocado quem acha que se opta pelo programa por não querer se iludir nas tramas insossas das novelas. Na verdade, a plateia pede é para ser iludida de maneira eficiente. E os reality shows proporcionam isso, pois a televisão nunca antes havia conseguido uma maneira tão eficiente de iludir.  O que transforma os sujeitos selvagens é a competição, esse é o conceito vendido ali, porém promovido à condição de espetáculo.

Voltando à política, o meio de divulgação dessas ideias mais utilizado hoje em dia é o das redes sociais. Aqui, já entramos no campo das notícias falsas para melhor explicar como funciona a teoria do viés de confirmação.

Acreditamos em notícias falsas (fakenews) porque nessa notícia tem algo no qual já acreditávamos. Para se ter uma ideia melhor, se você não gosta de determinado candidato, seja por quaisquer motivos, ao se deparar com uma notícia falsa desse candidato é muito provável que você acredite e compartilhe sem pestanejar como sendo verdadeira a informação. Agora, se a notícia é sobre um candidato de que você gosta, a tendência é a de que você procure evidências de que ela seja verdadeira, pois a notícia contradiz a sua crença sobre seu candidato.  Se você começar a olhar mais atentamente em suas redes sociais, vai ver que isso acontece frequentemente, ou seja, tendemos a acreditar no que valida nossas crenças e a suspeitarmos do que se opõe a elas.

Desse modo, os possíveis pensamentos automáticos para o viés de confirmação no contexto descrito acima são os seguintes: Eu já sabia que aquele lá era corrupto! Que calúnia, meu candidato jamais faria isso! São uns babacas, esses opositores!

Aí, você me pergunta: como evitá-lo? Primeiro é bom conhecê-lo mais.

A Universidade de Stanford, no final da década de 70, realizou um estudo onde havia dois grupos de voluntários que deveriam classificar dois estudos falsos sobre a pena de morte e a consequente diminuição da criminalidade. Um falava que a pena de morte era eficaz e o outro que ela era pouco eficaz. Como resultado foi valorizado pelos grupos o estudo que tinha mais a ver com suas crenças pré-estabelecidas. Ou seja, “de que pessoas de visões opostas são capazes de encontrar fundamento para suas crenças no mesmo conjunto de evidências disponíveis” , p. 2). Para ser mais exato, após lerem os dois estudos, apesar dos argumentos, quase todos retornaram às suas crenças iniciais.

Num outro estudo, empreendido por pesquisadores israelenses, em 2018, foi validado que nossos pré-julgamentos acontecem automática e espontaneamente. Os participantes fizeram a correção gramatical de sentenças sobre política e problemas sociais. Dos experimentos veio à tona que os voluntários eram mais rápidos no desempenho da tarefa de corrigir ao anuírem com seu conteúdo (CARVALHO, 2019).

Portanto, agora você sabe que seu impulso de compartilhar uma notícia vem desse seu viés de confirmação, de suas poderosas crenças pré-estabelecidas. Está consciente de que pode e deve examinar a veracidade da notícia, ainda que previamente concorde com ela. Com uma boa dose de esforço, está apto a promover uma mudança num país tão polarizado como o Brasil. 

 Referências.

CARVALHO, Davi, UNICAMP,  2019. Disponível em: https://www.blogs.unicamp.br/politicanacabeca/2019/06/25/fake-news-por-que-as-pessoas-acreditam-em-noticias-falsas-segundo-a-psicologia-social/. acesso em 23 out, 2020.

SCHWARTSMAN, Hélio, Folha uol. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/helioschwartsman/2018/09/por-que-acreditamos-em-politicos.shtml. acesso em 23 out 2019.

SCHELP, Diogo. Os políticos e as Mentiras. Revista Isto é, 2018. disponível em: https://istoe.com.br/os-politicos-e-as-mentiras/. acesso em 24 out, 2020.

BUCCI, Eugênio; KEHL,Maria Rita. Videologias: ensaios sobre televisão. ed. Boitempo, São Paulo, 2004. 

Imagem: Pequenas Empresas Grandes Negócios. Globo

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