Por que você deve ter mais gratidão por tudo

Quer ter um sono melhor? Melhorar sua imunidade? Manter equilibrada sua pressão arterial? Reduzir os sintomas da depressão e da ansiedade? Então nas linhas que se seguem vão algumas lições sobre como ter gratidão vai te ajudar e muito nisso. 

Primeiro é bom que fique claro o óbvio: agradecer é melhor do que reclamar. Reclamar, quando muito, evita que você faça coisas de que não gosta; ter gratidão, por sua vez, o estimula a reconhecer que deve e pode continuar em frente mesmo as coisas estando difíceis. Isso significa que devemos prestar atenção no que há de mais positivo. Isso traz bem-estar, contribui para nossa saúde mental. Contudo, você se pergunta: como e por que fazer isso? Vamos lá.

A gratidão já esteve muito mais vinculada à filosofia e religião, porém, atualmente, ela faz parte do movimento nos Estados Unidos denominado “Psicologia Positiva”. Sem a gratidão, de acordo com diversos autores, como Mccullough (2001), a vida em sociedade seria bem mais complicada, pois “a gratidão tem sido associada a traços de personalidade ligados a comportamento pró-social. Pessoas gratas são mais agradáveis e menos narcisistas”. Outros dois autores McWilliams e Lependorf (1990) perceberam que o narcisista não consegue experimentar e demonstrar a gratidão com outra pessoa, uma vez, que possivelmente a gratidão revelaria que ele não é uma pessoa que pode tudo, dá conta de tudo sozinha, sem a ajuda de ninguém.

Os estudos desses e outros autores se solidificaram com o respaldo da psicologia e da neuropsicologia. A partir desse respaldo, pode se dizer que a gratidão é um instrumento que deve fazer parte do nosso dia a dia, pois é capaz de modificar nosso processamento cerebral. Ou seja, modificar nossa maneira de pensar, sentir e agir.

Isso funciona assim, ao agradecer, nosso cérebro é estimulado a liberar dopamina, o que nos causa bem-estar. Essa liberação de dopamina aumenta os sentimentos de alegria e de contentamento e incentiva expressões repetidas de gratidão. O resultado é um ciclo de feedback positivo onde, quanto mais gratidão expressamos, mais nosso cérebro busca situações e comportamentos que gerem esses sentimentos gratificantes. Esse ciclo pode contribuir para uma perspectiva mais positiva da vida. Uma pesquisa realizada pelo Centro de Pesquisa de Consciência Plena da Universidade da Califórnia em Los Angeles —, sugere que após três meses do início da prática, o indivíduo pode ter mudanças duradouras na função e estrutura cerebral, particularmente no sistema de recompensa do cérebro.

Ainda de acordo com a pesquisa, ao ativar os centros de recompensa do cérebro por meio da gratidão a nossa motivação e nosso comportamento direcionado a objetivos podem ser aumentados, o que é especialmente vantajoso para pessoas enfrentando depressão ou ansiedade. Principalmente a depressão faz com que a pessoa perca a vontade de fazer muitas coisas. A gratidão ajuda a interromper essa perda da vontade ao intensificar o desejo de buscar atividades gratificantes.

Isso ocorre por meio de dois mecanismos neuropsicológicos. Um deles ocorre quando temos somados liberação de dopamina e gratidão. Além de o humor melhorar, a concentração e a vitalidade se elevam, o que facilita alcançar objetivos pessoais e profissionais. Porém tem mais, ela reduz o negativismo que sempre acompanha a depressão e a ansiedade. Deixa mais perceptíveis experiências positivas, nos aproximamos de uma vida com mais equilíbrio.

O outro mecanismo se refere à redução do estresse. Por ter influencia no sistema nervoso autônomo e em áreas do cérebro responsáveis pela regulação emocional, praticar a gratidão pode reduzir o estresse. Como? Ao sermos gratos, o sistema nervoso parassimpático é ativado. Com isso o “descansar e digerir” do nosso corpo entram em ação, o que trabalha opostamente à resposta de “luta ou fuga”, comandada pelo sistema nervoso simpático quando estressamos. O resultado é que entramos em relaxamento e os níveis de cortisol no sangue reduzem. O sono, a digestão e o sistema imunológico, por exemplo, ganham com isso.

Não bastasse, nosso coração ganha e muito com a prática da gratidão, pois com nosso sistema autônomo em equilíbrio, mais sono e menos estresse, temos uma frequência cardíaca também sem muitas oscilações.

Fuschia Sirois, uma pesquisadora da Universidade de Sheffield, na Inglaterra, estuda a função da gratidão e da compaixão na saúde e bem-estar das pessoas, revela que outro resultado positivo da gratidão está em obter o alívio da dor. Relaxamento e esperança vão na contramão da dor.

Corroborando outros autores e pesquisadores, em uma de suas pesquisas realizada com 200 estudantes, foi revelado que escrever listas de gratidão durante nove semanas teve como resultado “maiores taxas de felicidade e menos doenças físicas”. Por esses alunos se sentirem, então, melhores com a vida, passaram a fazer mais atividades físicas.

Para finalizar, não poderia deixar de falar da responsável por nossas respostas de medo, a amigdala. Se estamos mais relaxados, conseguimos ter reações emocionais menos intensas durante os problemas. Segundo Emmons e Mccullough (2003), se queremos ser mais resilientes, ter mais saúde física e qualidade de vida, devemos expressar mais sentimentos de gratidão, pois foi isso o que seus estudos experimentais verificaram. Não bastasse, os autores concluíram que quem expressa gratidão é mais positivo, entusiasmado, determinado e atento. As pessoas que praticam a gratidão também se sentem mais amadas e cuidadas.

Portanto, a ligação entre gratidão e boa saúde não está restrita à religião e à filosofia, nem à falácia popular ou suposições. Temos pesquisas mostrando que praticar a gratidão contribui para um bem-estar mental e físico. Você vai começar quando?

 

TRAVERS, Mark. Por que praticar a gratidão é indispensável, segundo a neurociência. Revista Forbes. Disponível em: https://forbes.com.br/forbessaude/2024/05/por-que-praticar-a-gratidao-e-indispensavel-segundo-a-neurociencia/#:~:text=A%20gratid%C3%A3o%20estimula%20a%20libera%C3%A7%C3%A3o,incentiva%20express%C3%B5es%20repetidas%20de%20gratid%C3%A3o. Acesso em 28 mai 2024.

MOSLEY, Michael. Por que sentir gratidão faz bem à saúde. Disponível em https://www.bbc.com/portuguese/geral-57767232. Acesso em 09 jun 2024.

PIETA, Maria Adélia Minghelli; FREITAS, Lia Beatriz de Lucca. Sobre a gratidão. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-52672009000100010. Acesso em 30 mai 2024.

Imagem: Freepik

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