O Início da Mudança de Pensamentos e Comportamentos
Você vive repetindo seus comportamentos, embora se esforce com todas suas forças para os mudar. O resultado é que você fica triste, ansioso. Quem sabe a caminho de algo mais grave.
Bom, antes de tudo é preciso saber que esses seus comportamentos
se originam de seus pensamentos. E tais pensamentos podem ser os mais diversos, a respeito de
parar de fumar, beber, deixar para trás definitivamente uma relação, seja
ex-namorado ou ex-esposa ou mesmo conseguir um emprego.
A
questão é: por que você não consegue mudá-los? É preciso, primeiro, ressaltar que não se trata de causa única,
as causas determinantes podem variar desde sua predisposição genética, ambiente
familiar e social e, claro, como você percebeu isso tudo, o que você pensa sobre o
que lhe aconteceu. Se você é muito tímido e vive precisando de algo que o
desiniba um pouco, como álcool, por exemplo, podemos, em terapia, esticar a sua
corda da extroversão, porém até certo ponto. Do contrário, isso causará mais prejuízos do
que benefícios, mas tal intervenção já trará mudanças profundas. Você verá com a terapia
que poderá ter novos pensamentos, pensamentos de que pode e deve enfrentar situações, eventos sociais sem a bengala de alguma
substância, de que pode sim dar conta de enfrentar dadas ocasiões. Óbvio que há casos e casos. De forma alguma há a intenção de banalizar alcoolistas ou dependentes químicos, tornar simplistas, casos que demandam muito mais cuidado. Por outro lado, o intuito é o de mostrar que há sim um caminho a percorrer, e melhor será se ele for percorrido de forma preventiva.
De maneira resumida, você perceberá que para abandonar velhos comportamentos, antes, ou concomitantemente, é preciso modificar seus pensamentos. Agora vamos ao que fazer para começar a mudá-los. O ponto de partida é identificar esse pensamento ou esses pensamentos, que são denominados pensamentos automáticos. Neste link tem um artigo inteiro sobre o pensamento automático aqui mesmo no Cogniativo: https://www.cogniativo.com.br/2021/01/o-que-sao-os-pensamentos-automaticos.html
Adiante, numa segunda etapa, é preciso julgar esse pensamento. Imagine que você tem o pensamento de que nunca vai conseguir um certo emprego, pois não dará conta de fazê-lo bem feito ou sequer aprendê-lo. Tente avaliar esse pensamento, teste a probabilidade de ele ser verdadeiro e o quanto é verdadeiro.
A fim de melhor ilustrar como iniciar a mudança, se faz necessário mencionar o uso da ferramenta Descoberta Guiada, um guia de questionamentos que tornará dado pensamento automático mais claro e prático de ser trabalhado. Contudo, lembre-se de que antes é preciso identificar esse seu pensamento automático.
Com o trecho abaixo, extraído do livro Terapia Cognitivo-comportamental Teoria e Prática, podemos ter uma ideia melhor de como a Descoberta Guida pode nos ajudar:
Geralmente durante a discussão de um problema,
você evoca as cognições do paciente (pensamentos automáticos, imagens e/ou
crenças). Constantemente, você vai averiguar qual cognição ou cognições são
mais perturbadoras para o paciente, depois lhe fará uma série de perguntas para
ajudá-lo a olhar com distanciamento (isto é, encarar suas cognições como ideias,
não necessariamente como verdades), irá avaliar a validade e utilidade das
cognições e/ou descatastrofizar seus medos. Perguntas como as seguintes, em
geral, são úteis:
“Quais
as evidências de que o seu pensamento é verdadeiro?”
“Quais
as evidências em contrário?”
“Qual
seria uma forma alternativa de encarar esta situação?”
“O que
de pior poderia acontecer e como você lidaria com isso? O que de melhor poderia
acontecer? Qual é o resultado mais realista desta situação?”
“Qual
o efeito de acreditar no seu pensamento automático e qual seria o efeito de
mudá-lo?”
“Se o
[seu amigo ou familiar] estivesse nesta situação e tivesse o mesmo pensamento
automático, que conselho você lhe daria?”
“O que
devemos fazer?”
TERAPEUTA: Ok, Sally, você disse que queria falar sobre um problema de encontrar um emprego de meio turno?
PACIENTE: É, eu preciso de dinheiro... mas eu
não sei.
TERAPEUTA: (observando que Sally parece mais
disfórica) O que está passando pela sua
cabeça agora?
PACIENTE: [pensamento
automático] Eu não vou conseguir dar conta de um emprego.
TERAPEUTA: [rotulando sua ideia como um
pensamento e vinculando-a ao seu humor] E como esse pensamento faz você se
sentir?
PACIENTE: [emoção] Triste. Pra baixo, mesmo.
TERAPEUTA: [começando a avaliar o pensamento]. Quais as evidências de que você não será
capaz de trabalhar?
PACIENTE: Bem, eu estou tendo problemas em
acompanhar as aulas.
TERAPEUTA: Ok, o que mais?
PACIENTE: Eu não sei... Eu estou tão cansada.
Para mim já é difícil até mesmo procurar um emprego, que dirá ir trabalhar
todos os dias.
TERAPEUTA: Em um minuto examinaremos isso. [sugerindo
uma visão alternativa] Talvez na verdade seja mais difícil para você neste
momento sair e procurar empregos do que seria se você fosse para um emprego que
já tivesse. De qualquer forma, existe alguma outra evidência de que você não
daria conta de um trabalho, considerando-se que conseguisse um?
PACIENTE: ...Não, não que eu consiga lembrar.
TERAPEUTA: Alguma
evidência do contrário? De que talvez você conseguisse dar conta de um emprego?
PACIENTE: Bem, eu trabalhei no ano passado. E
foi no auge do período escolar e outras atividades. Mas este ano... eu
simplesmente não sei.
TERAPEUTA: Alguma outra evidência de que você
conseguiria dar conta de um emprego?
PACIENTE: Eu não sei... É possível que eu
conseguisse fazer alguma coisa que não tome muito tempo. E que não seja muito
difícil.
TERAPEUTA: E o que seria isso?
PACIENTE: Um trabalho de balconista, talvez. Eu
fiz isso no ano passado.
TERAPEUTA: Alguma ideia de onde você poderia
trabalhar?
PACIENTE: Na verdade, talvez na livraria [da
universidade]. Eu vi um aviso de que estão procurando novos funcionários.
TERAPEUTA: Ok. E o que seria a pior coisa que poderia acontecer se você
conseguisse um emprego na livraria?
PACIENTE: Acho que seria se eu não conseguisse
realizar o trabalho.
TERAPEUTA: E se isso acontecesse, como você
lidaria com isso?
PACIENTE: Acho que eu simplesmente desistiria.
TERAPEUTA: E
qual seria a melhor coisa que poderia acontecer?
PACIENTE: Hum... que eu conseguisse fazer tudo
com facilidade.
TERAPEUTA: E
qual é o resultado mais realista?
PACIENTE: Provavelmente não vai ser fácil,
especialmente no começo. Mas eu poderia conseguir.
TERAPEUTA: Sally, qual o efeito de acreditar no seu pensamento: “Eu não vou conseguir
dar conta de um emprego”?
PACIENTE: Faz com que eu me sinta triste... Faz
com que eu nem mesmo tente.
TERAPEUTA: E
qual é o efeito de mudar o seu pensamento, de dar-se conta de que
possivelmente você poderia trabalhar na livraria?
PACIENTE: Eu me sentiria melhor. Seria mais
provável que eu me candidatasse ao emprego.
TERAPEUTA: Então
o que você quer fazer a respeito?
PACIENTE: Ir até a livraria. Eu poderia ir hoje
à tarde.
TERAPEUTA: Qual a probabilidade de você ir?
PACIENTE: Ah... eu acho que vou. Eu vou, sim.
TERAPEUTA: E
como você se sente agora?
PACIENTE:
Um pouco melhor. Um pouco mais nervosa, talvez. Mas com um pouco mais de esperança,
eu acho.
P: E
se... ainda assim você afirmar que nada poderá melhorar o seu humor?
R:
Para alguns pacientes que persistem nessa crença, poderá ser útil colocar na
pauta “Coisas que podem ajudar a me sentir melhor e coisas que podem ajudar a
me sentir pior” para serem discutidas posteriormente. Tal ferramenta pode
ajudar a reforçar a noção de que você pode ter pelo menos um mínimo de controle
do seu humor. Por meio da descoberta guiada, se pode ajudá-lo a ver que a
evitação, o isolamento e a inatividade geralmente aumentam sua disforia (ou
pelo menos não ajudam a melhorar), enquanto o engajamento em determinadas
atividades (em geral que envolvem interação interpessoal ou que têm um
potencial para prazer e domínio) pode levar a uma melhora no humor, mesmo que
pequena inicialmente.
Estratégias que podem ajudar no caso de
humor rebaixado:
Coisas que fazem eu me sentir melhor
Andar
de bicicleta
Responder
meus e-mails
Encontrar-me
com amigos
Arrumar
meu quarto
Coisas que fazem eu me sentir pior
Ficar
na cama
Tirar
longos cochilos
Assistir
muito à televisão
Ficar
sentada sem fazer nada
Esse
texto é apenas uma demonstração do que pode ser realizado para mudar seus
pensamentos, mas o ideal mesmo é procurar ajuda especializada.
Referência
BECK,
Judith S. Terapia Cognitivo-comportamental. Teoria e Prática. Ed. Artmed. 2014
(com adaptações).
Imagem:
https://amenteemaravilhosa.com.br/reestruturacao-cognitiva/ acesso: 02 nov 2021.
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