Transtorno de Ansiedade Social (fobia social): Muito Além da Vergonha - texto completo

    

O que é fobia social?

Diversos fatores de vida podem determinar um quadro de fobia social, como por exemplo, a ansiedade diante do contato com outro ser humano. Mas vamos ao ponto, o que é se sentir ansioso socialmente? Significa que a troca interpessoal, o contato com outro ser humano se tornou aversiva para o cliente, se tornou problemática para ele. Claro, houve um condicionamento aversivo, um condicionamento de ansiedade em relação aos estímulos sociais.

A fobia social (FS) representa um problema grave de saúde mental com características incapacitantes em suas diferentes formas de apresentação. A mais comum é o medo de ser humilhado ou ridicularizado em situações sociais por apresentar atitudes inadequadas ou sintomas de ansiedade como tremor, rubor, sudorese excessiva e desatenção (ITO et al, 2008, p. 97).

Antes de prosseguir, se faz necessário delimitar a fronteira entre fobia social e timidez.

Timidez é uma característica bastante comum na população e é um termo utilizado para uma grande diversidade de situações. É uma situação comum em determinadas fases do ciclo da vida, mais propriamente na adolescência. No entanto, na maioria dos casos, esta vivência é de grau ligeiro e não interfere com o funcionamento social da pessoa e não conduz ao evitamento dessas situações (MAGALHÃES, 2010, p. 4).

Não se deve, no entanto, ver a timidez como uma situação anormal ou uma condição pré-patológica. Para Zimbardo (1977), a timidez tem até vantagens: as pessoas discretas e introspectivas conseguem preservar melhor a sua intimidade, disfrutam dos prazeres da solidão, geralmente não intimidam ou incomodam outros, evitam conflitos, observam, atuam cautelosamente e são bons ouvintes (MAGALHÃES, 2010, p. 8).

Quais são os quatro estímulos de origem humana, de origem social vindos de outras pessoas e mais temidos por uma pessoa com ansiedade social? Aproximação entre interlocutores, a aproximação entre pessoas e o indivíduo já é fonte de aversão, ou porque ele está numa situação em que tem que se aproximar, seja por exigência profissional, escolar e ele tem que fazer esse movimento ou alguém faz em direção a ele por interesse dessa parte. A aproximação, o contato físico, o toque, o beijar, o cumprimentar, o olhar do outro para o indivíduo, encarar as pessoas nos olhos já pode ser fonte de ansiedade. E principalmente a fala, falar com outra pessoa, seja receber a palavra da pessoa e ter que reagir a ela ou ter que iniciar esse movimento de fala. O estímulo verbal, a verbalização alheia e emitir uma própria, já é fonte de ansiedade.

E aí, você se pergunta, por que o movimento de outros seres humanos em relação ao indivíduo ou ele ter que fazer esse movimento em relação a outros indivíduos se tornou fonte de tamanho mal-estar? São vários os motivos para isso, e são eles que dão sentido ao problema para quem tem fobia social. Antes de tudo, é bom lembrar que não nascemos com fobia social. Um bebê, pelo contrário, é avido por contato social, depende desse contato. É com o tempo que essas relações vão se tornando problemáticas, aversivas. E nem precisa ser algo traumático, pode se tratar de micro experiências de rejeição, crítica, hostilidades mascaradas de brincadeira. Muitas brincadeiras entre adolescentes são recriminadas, nada pode ser brincado, dito, o outro leva a mal, é hipersensível, mas existem muitas violências e agressões colocadas na conta da brincadeira.

É muito difícil para pais e educadores conseguirem discriminar entre a brincadeira genuína e uma agressão. Isso dentro de um espectro de manifestações, de implicância, zombarias, ou seja, deixar claro o que é uma agressão verbal, uma perseguição, uma humilhação, o roubar merenda sob ameaça. Há uma série de condições muito perturbadoras que devem ser tratadas com seriedade, com o rigor das autoridades escolares e parentais. Muitas vezes toda essa dinâmica opressiva, hostil de fato é diluída e ninguém dá bola, tal como, as pessoas perdem a sensibilidade por coisas sérias e graves. Além de que, por conta de um excesso de supercuidado, superproteção a uma criança ou a um jovem sem o ensinar a enfrentar situações inerentes à condição humana, pode-se desenvolver a fobia social.

Outro fator a se levar em consideração é que a pessoa, evitando o contato social por conta de alguma aversão inicial, deixa de desenvolver habilidades sociais. Focando no tratamento, encontramos na pessoa com fobia social alguns déficits em habilidades psicológicas que devem ser trabalhados na seguinte hierarquia.

Ajudar o cliente a desenvolver amplo repertório de sociabilidade e sensibilidade social (nas próximas páginas será abordado, passo a passo, o treinamento de habilidades sociais).

O ponto primordial é o de treinar o cliente para investir em contatos interpessoais, para ser o iniciador desses contatos, a ponto de se tornar uma pessoa apreciável, gostável e encantadora, com isso valorosa para os outros, atrair pessoas e construir mais intimidade com aquelas que lhe interessam pelo compartilhamento de afinidades, de gostos e valores. Se o indivíduo reúne as habilidades sociais para ser apreciável, admirável como ser humano, ele vai atrair pessoas para ele. Ninguém quer conviver com pessoas nocivas, manipuladoras e dissimuladas.

Contudo, o fóbico social não tem comportamento hostil, em sua maioria, ele apresenta um comportamento de inferiorização, submissão e evitação social. É isso o que se quer superar, desenvolver nele. Alguns fóbicos sociais são socialmente deficientes, ou seja, eles não aprenderam, estão carentes de repertórios socialmente habilidosos, não sabem como se comunicar. E isso põe em risco até o emprego. São raras as profissões que não exigem contato interpessoal. Em algum momento você vai ter que se comunicar com alguém, ainda que trabalhe como biólogo marinho. Será necessário se contatar com outros biólogos, grupos de pesquisadores. É ilusão achar que não terá nenhum contato por ser veterinário, que se terá contato apenas com os bichos, mas os bichos têm donos. É muito ruim existir nesse mundo sem ter com quem contar. Na ordem lógica e natural, você perderá seus pais, se não tiver um bom relacionamento com seus irmãos terá que contar com seus amigos.

Autoestima

Uma etapa imprescindível no manejo da fobia social é o desenvolvimento de autoestima: a pessoa com fobia social não irá treinar repertório de habilidades sociais se ela não enxergar em si qualidades, virtudes, valores capacidades, que os outros queiram desfrutar. Se eu não vejo nada de bom em mim, se não existe nada de bom em mim, por que as pessoas haveriam de estar comigo? Faz sentido, o erro é alguém acreditar que não haja nada de bom em si. Se alguém é desagradável, nocivo, desprezível, ninguém tem um bom motivo para estar contigo, porém, as pessoas têm predomínio de qualidades e seus defeitos são toleráveis, pois ninguém é perfeito. Claro que algumas têm predomínio de defeitos, há sociopatas no mundo, hostis, manipuladoras, abusivas, não se esqueça, porém se trata de exceções, não é a regra.

De todo modo, precisamos nos tornar melhores ao longo do tempo, com virtudes e qualidades excedendo às nossas limitações, aos nossos comportamentos problemáticos, nocivos.  Isso é o trabalho de desenvolvimento de repertório de habilidades sociais, desenvolver uma quantidade superior de características apreciáveis, gostáveis, fazendo com que as pessoas se sintam bem em nossa companhia. E o cliente com fobia social já possui, tem muitas virtudes, na maioria das vezes. Por que ele é um indivíduo que não é nocivo aos demais. Ao contrário, ele é pacato, passivo, acovardado interpessoalmente, submisso, evitativo. Ele não move um músculo para fazer mal a alguém; opostamente, ele teme a crítica, teme o julgamento, teme as pessoas pensarem mal dele, o acharem inadequado. É preocupado até demais, com a opinião alheia, sobre si mesmo, seu desempenho, se está sendo adequando, se está fazendo mal às pessoas ou não.

A imunidade social, é outro fator que contribui para uma boa autoestima. Mais adiante será abordada de maneira mais aprofundada, mas, resumidamente se trata de parar de se preocupar com a opinião das outras pessoas e governar-se pelo raciocínio ético.

Voltando à autoestima, ao iniciar um movimento a outro ser humano ou ele iniciar um movimento em direção a mim, ao me conhecer, ao trocar comigo, o que ele tem para desfrutar? Preciso saber o que tenho a oferecer de bom ao outro. Essa é a pergunta que vai guiar a investigação do seu cliente.

Dois trabalhos para desenvolver a autoestima

Trabalho e contemplação (autocontemplação) de características apreciáveis já desenvolvidas.

Desenvolver mais características apreciáveis para além daquelas que já possui.

E como é que se passa a gostar mais de si mesmo?

Vendo em si mesmo características apreciáveis, vendo em si mesmo o que gostar. É importante que eu goste do que há em mim, e pode até ser que nem todo mundo goste, gosto cada um tem o seu, mas havendo quem goste, haverá afinidade com dada pessoa. Isso agrada a outra pessoa, isso permite um entrelaçamento de indivíduos, as suas características atendem ao outro; as do outro, a você.

Nesse caso, se pede para ele listar o que tem atualmente em relação aos seguintes critérios. Aparência física, estética, adornos, enfeites, autocuidado, cabelos, roupas. No que diz respeito a isso, como está seu apreço e o que você gostaria de desenvolver em tal aspecto, para que você goste ainda mais desse critério?

Mas aparência e cuidado físico não é tudo. Então parte-se para a competências. Liste tudo o que você aprendeu a fazer na vida, tudo, tudo. Andar de bicicleta, de patins, jogar cartas, dama, xadrez, videogame, língua estrangeira.

Podemos fazer o cliente examinar e registrar todo o seu histórico de competências, coisas em que se tornou bom. Coisas em que ele é competente, capaz, ou ao menos que esteja no nível de suficiência. Por exemplo, andar de skate. Ele não é profissional no skate, mas se diverte com isso, e tem afinidade com quem anda de skate. Sabe jogar cartas, joga truco, pôquer, portanto pode ter companhia para essas atividades. Tudo o que o cliente aprendeu a fazer agrega valor. Se alguém não sabe andar de skate, jogar cartas, você pode ensinar. Além de que, pode se desenvolver tantas outras competências. O próprio Lincoln, autor dessa “vídeo-palestra”, começou a aprender algumas coisas por agora. Aprendeu a tocar violão com 32 anos, em nível de excelência? Não, o bastante para se divertir e tocar nas reuniões com os amigos. Tal como, atualmente, aos 41 anos, faz muay thai. Como se pode notar, aprender uma coisa nova ajuda a elevar a autoestima. Isso se dá e bem no trabalho com idosos também.

Outro atributo para se investir diz respeito aos valores

 Nível atual. Quais são seus valores não declarados? Não interessa as pessoas, o que você declara, o que sai da sua boca em termos de promessa, de autoengrandencimento, por exemplo, “sou muito generoso, muito cooperativo”.  Não. Ações. O que você tem de valoroso, se você acha que alguma tem valor, expresse em ações. Quais são suas ações valorosas. Valores expressos em condutas. Se a honradez com compromissos é um valor para você, ótimo, o liste.

Outra forma de trabalhar a autoestima é pedir feedback social. Peça a pessoas de confiança, que queiram seu bem, da sua intimidade, da sua convivência, para listarem características apreciáveis em você.

Imunidade social

É habilidade psicológica de não se importar com a opinião alheia. Para isso é preciso corrigir distorções do cliente. Tal finalidade exige trazer uma lista de mentalidades e colocar em debate. Primeiro, fazer um exame de direitos pessoais. Lista de direitos. Quais são os direitos humanos, constitucionais (artigo 5º sobre direitos e garantias individuais), quais são os direitos que ele tem e que tem permitido violar por suas dificuldades. Ao reconhecer seus direitos, deve-se aumentar um degrau no seu empoderamento. No seu nível de consciência sobre si na sociedade, sobre o que pode e o que não pode.

Segundo, frases de mentalidade que devem ser debatidas. Paus e pedras podem me quebrar os ossos, mas palavras nunca me ofenderam. O que os outros pensam ou dizem a meu respeito é tão destrutivo mesmo? Quando as pessoas falam mal de você, isso fica ruim para você ou pior para essa pessoa que falou mal? Toda pessoa maledicente, sobretudo quando inventa, quando fabrica algo para poder depreciar, assassinar a reputação de alguém, é quem sai destruída. Trata-se de uma pessoa maliciosa, nociva. É um desperdício de energia se defender de algo que sabidamente é uma fabricação. A não ser que lhe traga consequências, não se deve argumentar.

Preste atenção: tudo o que sai da minha boca, tudo o que faço e falo, revela a meu respeito. O que os outros falam e fazem revela sobre eles. Inclusive quando falam e agem contra você. Se alguém aponta um defeito meu e ele é verdade, eu avalio o esforço de mudança, ou o impacto que isso traz para mim ou para alguém. E posso reconhecer: “É isso daí é realmente uma limitação minha”. “Esse é um defeito meu”. Posso tentar mudar isso se isso impacta em mim ou em alguém em um nível significativo. Do contrário, posso conviver com isso também, se o custo de mudar não compensar, dado o impacto baixo que tem na minha vida ou na vida de alguém.

Se a crítica é pertinente, é justa, você pode considerar a possibilidade de mudança. Agora, às vezes as pessoas fazem críticas pertinentes, porém inabilmente. A crítica é válida, isso é verdade, mas a maneira como a pessoa falou é ruim. Fala de um jeito ruim, mas o conteúdo é bom. Pode-se considerar que a pessoa revise a forma de colocar. A forma de colocar não está habilidosa, porém reconhece-se o valor do conteúdo que se está alegando. Já, algumas vezes, a pessoa é muito polida em nos fazer uma crítica, mas a crítica é injusta. Há muitos demagogos eloquentes, que falam bem, para distribuir desinformação, falácia, mentira, falsidade, assassinar reputações com falas elegantes. São manipuladores profissionais. Uma coisa é a forma de falar, ela é habilidosa ou não; outra é o conteúdo do que está sendo falado. Ele é bom ou é ruim, é pertinente ou não. O bom é quando a forma é habilidosa e o conteúdo é verdadeiro, é justo. Quando a pessoa falou de um jeito habilidoso e apontou alguma coisa realmente válida, aí validamos na hora toda a sentença.

Portanto, deve-se trazer para o cliente várias dessas mentalidades para debatermos, para verificar no dia a dia onde ele não as aplica. Por exemplo, aprendi que não devo me importar com comentários que não vão mudar minha vida. Que reflexões se extrai disso, onde ele tem se importado com a opinião. Em vez de se importar somente com o que as pessoas pensam sobre algo, reflita se vale a pena. Às vezes não vivemos nossos próprios medos, mas os medos de outras pessoas. Um homem nunca deve ter vergonha de admitir que errou, nunca deve ter vergonha de assumir erros, porque não tem compromisso com o fracasso, com a falha, com o erro.

Outro trabalho a ser realizado para corrigir a imunidade é o duplo padrão da vulnerabilidade. Muitos de nós admiramos pessoas com dificuldades, que transcendem pelo esforço, apesar da clara limitação. Você pede para o cliente listar situações em que ele ache admirável o esforço de alguém. Aí você o questiona sobre a dificuldade social dele, no caso dele, os esforços para superá-la não são meritórios? Você acha corajoso, admirável alguém lutar por sua limitação, porém no seu caso você acha a situação criticável? Que tal distribuir a si mesmo a mesma consideração e compaixão que você estende ao outro?

Habilidades sociais a serem trabalhadas

Primeiro deve se criar uma hierarquia de déficits em habilidades sociais. Quais são essas habilidades sociais que você poderá hierarquizar? Deve-se hierarquizar das capacidades interpessoais que ele tem mais facilidade para aquelas que ele possui mais dificuldade. Começar por aquelas nas quais ele seja menos deficitário.

A primeira habilidade social que deve ser trabalhada é a de civilidade, de expressivos amenos. O que é a habilidade social de civilidade? Cumprimentar as pessoas. Bom dia, boa tarde. Como vai o senhor? Tudo bom? Opa, tudo bem? Pois não? Ceder o lugar para alguém com prioridade. Por favor, faço questão. Perceber os expressivos na face quando se fala isso. Olhar amigável, sobrancelhas amenas, nada de testa franzida, de cara fechada. Deve-se arquear as sobrancelhas ao cruzar com alguém. As pessoas quando são acessíveis e se interessam pelos demais, faz com que os demais se interessem por ela também. Uma forma de mostrar acessibilidade, interesse é fazer um micro, rápido movimento de sobrancelha, quando você cumprimenta alguém. A simpatia está nos expressivos, não no cumprimento. Cumprimentar é a civilidade. Tem gente que cumprimenta de cabeça baixa, quando cumprimenta, tamanho é o déficit. Não basta um oi envergonhado, temeroso, por isso tem que se treinar os expressivos amenos com o cliente no consultório. O sorriso de canto de boca, não precisa ser escancarado, você não está gargalhando, não está ouvindo piada. Olhar simples, nada de arrogante. Queixo em direção à pessoa, nada de queixo erguido. No caso da pessoa com ansiedade social, ela tende a manter o queixo caído, ela não exibe arrogância, exibe submissão.

Tirar fotos desses treinos, ir fazendo com ele e ir tirando fotos para acompanhar a evolução. Ele mesmo deve se observar. Pode ser feito em frente ao espelho também. Ir lapidando do sorriso tímido do início ao mais natural do final. Pode filmá-lo, enviar-lhe o vídeo para e apagar na frente dele, por questão de sigilo e ética. Dar vídeo feedback, pois a gente não consegue se enxergar se não com esses suportes de foto, espelho ou vídeo. Outro ponto, deve-se haver equilíbrio entre vaidade e desleixo, existir um nível suficiente de cuidado. Nem falta de cuidado com odores, dentes, cabelo e roupas, a higiene em si, nem a ostentação de roupas, adornos.

As pessoas saberão de cara o quanto você cuida de seu patrimônio físico, da sua estrutura biológica. Ele, seu patrimônio físico, é seu mais importante patrimônio, e não seu carro, sua casa. Se você quer viver longamente e bem, vai ter que cuidar dele. Aliás, é ele que nos permite ganhar os outros patrimônios. Sem saúde física, vigor, disposição, você nem ganha a vida para poder ter um carro ou uma casa. E isso está relacionado à alimentação, atividade física regular. Dizer que isso não é importante, é autoengano. Não se pode ingerir qualquer coisa, qualquer porcaria, qualquer coisa destrutiva. Por outro lado, pode-se fazer o uso recreativo, eventual de uma comida mais gordurosa, até mesmo o uso casual e parcimonioso do álcool, porém desde que isso não chegue a comprometer seu bem-estar físico. Se você mantém como padrão, como regularidade o autocuidado, eventualmente você pode ter uma dada recreação com comida e bebida, mas, casualmente. Tudo isso é importante para a autoestima, a imunidade social vem depois. Se eu me aprecio, gosto de mim, sei quem eu sou, o que disserem a meu respeito combaterei com mais facilidade.

Recapitulando e prosseguindo: civilidade, expressivos e habilidade de iniciar conversação. Muita gente tem essa dificuldade. Habilidade social de iniciar conversação é a habilidade social de se interessar pelo outro. Eu inicio uma conversa fazendo as pessoas falarem delas mesmas, nunca falando de mim mesmo. Criar perguntas abertas para que as pessoas falem de si. Nada interessa mais a um ser humano do que ele mesmo. Quando você faz alguém falar de si, automaticamente essa pessoa passa a gostar de você, pois ela quer falar dela e você lhe deu essa oportunidade. Essa é a regra, a lei de construção rápida de relacionamentos: praticar a civilidade e formular uma pergunta para que a pessoa fale de si mesma.

Tudo dependerá do contexto para formular essa pergunta. Por exemplo, você está num bar. Você pergunta para a pessoa que está lá sobre a bebida que ela está tomando, se é boa, se ela sempre pede dela, se ela a recomenda, por qual motivo ela gosta dessa bebida, quais outras preferências. Pronto, a pessoa vai falar da bebida e consequentemente de si.

Assim sendo, pense no contexto do seu cliente, faculdade, trabalho, lazer. Em relação a pessoas do trabalho dele, peça que ele dê o nome de todas elas, informações sobre elas. Você vai formular perguntas abertas para serem feitas por ele a essas pessoas. Uma para cada pessoa por dia durante a semana. Não esquecer de ensaiar com seu cliente no consultório. Imagine que eu estou na máquina de café, sou o fulano do setor tal, como você (cliente) iniciaria uma conversa comigo? Perguntando coisas do trabalho, meus gostos por café. E sua rotina de trabalho como está? Está pesada, tranquila? A pessoa vai falar de si e você vai encontrar afinidades ou não. Ah eu gosto desse café também ou não gosto desse café, gosto de outro, mas vai haver interação.

Ensaiar no consultório expressivos, postura, vocalização, contato visual até que o cliente se sinta seguro e possa fazer aquilo por si mesmo. Mostrar a forma de fazer e ir o modelando. Dar feedbacks. De tanto repetir, vai ficar natural.

Outra habilidade social importante é a de elevar as pessoasElogiar, seja pelo que a pessoa possui, seja ensinando ou cooperando com alguma coisa. Elogiar é validar. “Nossa, não tinha pensado por esse lado, muito bom, obrigado.” Não precisa ser algo formal, como excelente, parabéns. Ninguém gosta de ser criticado, e o elogio abre portas.

Cooperar, é outra habilidade social crucial. Não existe quem não goste de ser ajudado, imagine que você vê o seu professor carregando muitas coisas e vai lá o ajudar. De pronto, você entrará para o rol de alunos memoráveis.

O humor, fazer humor é mais uma habilidade social que deve ser trabalhada. Se você não possui a habilidade de fazer rir, ao menos seria bom aprender a rir com quem tem. Mas essa é a última habilidade a ser trabalhada. É bom ressaltar que ao fazer humor não se deve brincar com características de outras pessoas, no máximo de si mesmo.

Resumindo sobre o treino de habilidades sociais: civilidadeexpressivos amenosiniciar conversação se interessando pelo outro, elogiar o que vier do outro e ser um ouvinte não julgador (não se esqueça do humor). Em relação à habilidade social de ser um ouvinte não julgador, quando as pessoas começarem a falar de si, evite julgamentos. Se você iniciou o movimento de perguntar, tem que estar disposto a ouvir, concordando ou não com a resposta, com o pensamento do outro.

Quando isso tudo estiver natural para o cliente, é hora de ele receber alta.

Nota: esse texto é meramente informativo, de forma alguma substitui a consulta com um profissional qualificado.

Referências

ITO Lígia M; ROSO, Miréia C; TIWARI Shilpee; KENDALL Philip C; ASBAHR Fernando R. Terapia cognitivo-comportamental da fobia social. Revista Brasileira de Psiquiatria. v. 30 p. 97-101. São Paulo (SP).  2008.

MAGALHÃES, Rui Tavares Magalhães. Da Timidez À Fobia Social.  Faculdade De Medicina Da Universidade De Coimbra. Tese de Mestrado, 60 p. (2010). Disponível em: https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/18589/1/Da%20Timidez%20%C3%A0%20Fobia%20Social%20-%20Rui%20Magalh%C3%A3es.pdf acesso em 02 out 2020.

POUBEL, Lincoln. Tratamento Cognitivo-Comportamental da Fobia Social. 2021. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=BQAqqfQf_hI. Aceso em 22 fev 2021.

Imagem: Psicólogos Berrini. Disponível em: https://www.psicologosberrini.com.br/psicologo-panico-medo-e-fobia/fobia-social/. Acesso em 22 fev de 2021.

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