Velhas Demandas Do Processo De Aprendizagem


imagem: psicologiaacessível

Nesse primeiro texto de uma série deles, vou apresentar informações sobre o contexto do processo de aprendizagem, seus eventuais obstáculos e possíveis intervenções.

Mas antes de tudo, vou falar um pouco sobre mim, um pouco do André aluno e as velhas demandas do processo de aprendizagem. 

Eu tive muita dificuldade em aprender as disciplinas, principalmente matemática. Como se não bastasse isso, também tive dificuldade na escrita, porém na minha época não havia tanta informação como se tem hoje nem estrutura para se intervir em casos como o meu.

O que eu fazia então? Ia para casa e, por medo de retaliação de meus pais, mais da minha mãe e suas havaianas, diga-se de passagem, ficava estudando, tentando entender o que não havia entendido em sala de aula, pois eu temia perguntar e rirem de mim.

O problema era que eu não sabia identificar esse pensamento automático disfuncional de que “iam rir de mim”, não sabia procurar evidências de que era verdadeiro, e se fosse, eu não saberia como agir. Tampouco tinha noção de que ele era desencadeado por minhas prováveis crenças centrais de que era burro ou inadequado. Eu chegava a ter pesadelos com notas ruins, amigos passando de ano, e eu ficando. 

Eu não fiquei, mas somente muito depois, eu pude saber que esses meus comportamentos, como o de ir para casa e estudar muito para tentar resolver sozinho minha dificuldade em aprender ou faltar à aula, serviam para tentar contornar minha maneira distorcida de ver a mim mesmo, o mundo e o futuro (tríade cognitiva), porém tornavam a coisa toda cíclica

E não demorou para a ansiedade em relação aos conteúdos, à professora e aos alunos começar a virar uma timidez, ou mesmo um transtorno de ansiedade social — sabia-se lá —, e que atingia todas as áreas da minha vida. Porém não havia ali psicólogo, psicopedagogo ou neuropsicopedagogo para me ajudar. Era raro alguém ir ao neurologista fazer exame de imagem para detectar um possível mau desenvolvimento no lobo parietal, que talvez lhe causasse uma discalculia. Pouco se falava em dificuldade ou transtorno de aprendizagem, a verdade era que tudo isso seria meio que frescura, e se "resolvia" as coisas no grito, no castigo, no copiar cem vezes uma determinada frase que a professora passava no quadro ou ditava. Distrair-se durante a explicação da professora, fosse porque se possuísse um TDAH ou não, levava você a ficar sozinho na sala enquanto todos iam para o recreio. Aquele que não fizesse exatamente — e bem feito — o que a professora mandava, experimentava esses métodos desestimulantes ou dispedagógicos de correção.

Não estou aqui procurando culpados, apenas fazendo uma reflexão sobre como atualmente há meios que podem evitar todo esse desgaste que havia. 

Por falar nisso, o meio usado por mim para evitar esse desgaste era simular uma dor de barriga ou resfriado para não ir à aula. Isso em terapia cognitiva tem o nome de comportamento de segurança. Se por um lado, ele me aliviava um pouco a ansiedade por não entrar em contato com a escola; por outro, cada vez mais consolidava minha crença central de ser inadequado. De todo modo, eu frequentava a maior parte das aulas e conseguia boas notas, o problema era que a um preço muito alto, como se vê.

Só anos mais tarde, bem mais tarde, quando fui fazer o exame para o exército, descobri um problema de visão que, segundo uma consulta posterior ao oftalmologista, provavelmente já me acompanhava desde a infância. Eram quase dois graus em cada olho. Isso explicava boa parte de minhas dificuldades em aprender matemática ou na escrita, mas em nada mudava minha provável ansiedade social, que por aqueles tempos diminuíra, porém não o suficiente para eu ler sem suar as mãos ou sem tremer a voz diante da sala.

Se alguém aí acha bobagem intervenções precoces no âmbito escola-família, não tem noção de como elas podem evitar situações como a minha, como se pode obter resultados fantásticos dentro e fora da sala de aula.

Sendo assim, mais do que trazer à tona as dificuldades e os transtornos de aprendizagem, buscarei mostrar, além das possibilidades da neurociência e da pedagogia, os principais aspectos psicológicos que emperram não só o aprender, mas o ensinar.

Pois, os professores não estão imunes a passar por problemas como ansiedade, depressão ou síndrome de burnout. Será que nenhuma de minhas professoras tinha algum problema que interferisse no seu trabalho? Ou será que não podiam fazer algo para as coisas acontecerem de forma mais tranquila? E quanto à minha família, o que poderia ter sido proposto à minha mãe, como intervenção nas reuniões de pais, ao invés de apenas expor minhas dificuldades?

É essa a ideia: tornar mais claro como essas dificuldades ou transtornos podem atrapalhar o processo de aprendizagem como um todo, ao mesmo tempo mostrar como os identificar, inclusive precocemente, e apresentar possíveis alternativas por meio da terapia cognitiva.




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